Olá, tudo bem?
O ano começou com alegria e alguma preocupação para nós que moramos no Brasil. Que não seria fácil, todos já sabíamos; é por isso que, aqui na Literária, a literatura segue sendo companhia e diversão, mas também - e principalmente - um contraponto humanizador e crítico do ódio especial que é destinado a ela, às outras artes, à educação e à cultura.
Fevereiro será um mês diferente para nós: é a primeira vez que a Literária se une a uma editora para desenvolver uma atividade conjunta em torno de um livro. A editora em questão é a carioca Bazar do Tempo, e o livro é nada mais nada menos que A idade da inocência, romance escolhido para abrir o Clube F. de 2023 e que figura entre as leituras favoritas de um dos nossos cursos favoritos: a série sobre As mulheres que escreveram Nova York. Quem participou da primeira edição deve se lembrar do encontro em que a professora Marcela Lanius falou sobre esse romance, que foi publicado em 1920 e premiou pela primeira vez uma escritora, a estadunidense Edith Wharton (1862-1937), com o Pulitzer de Ficção em 1921. Na edição que chega agora pelo Clube F., a tradução é de Julia Romeu.
Sobrecapa, capa e página de rosto da primeira edição de A idade da inocência (cujo título original em inglês é The Age of Innocence), de Edith Wharton, publicada em 1920
A idade da inocência tem como personagens de seu enredo central o triângulo amoroso formado por membros da elite nova-iorquina, “pessoas que tinham mais medo de escândalos do que de doenças”: May Welland, uma jovem muitíssimo bem relacionada e que está prestes a firmar um casamento aprovado por todos de sua classe; seu noivo, Newland Archer, profissional bem-sucedido, de boa família e com um futuro bastante promissor; e a prima da jovem, a Condessa Ellen Olenska, que há muitos anos vive na Europa, mas retorna subitamente à Nova York às vésperas de se divorciar do marido estrangeiro, um aristocrata polonês mais velho e cruel. A narrativa - que se passa durante alguns anos das décadas de 1870 e 1880 e termina com um breve salto para o início dos anos de 1900 -, revela muito sobre aquela sociedade e a cultura e os costumes de uma época que se transformava rapidamente.
Capturas do filme A Época da Inocência (1993), dirigido por Martin Scorsese, com as atrizes Michelle Pfeiffer e Winona Ryder nos papéis de Ellen Olenska e May Welland. O filme foi baseado no romance A idade da inocência de Edith Wharton, e falaremos sobre ele na nossa Sessão Literária de fevereiro, uma parceria com o Clube F. da editora Bazar do Tempo
Conhecido como Gilded Age ou “Era Dourada”, o período que se estendeu de meados dos anos de 1870 até o início do século XX foi de enorme afluência para a camada mais rica da população dos Estados Unidos devido, majoritariamente, à industrialização. No romance, diferentes espaços da metrópole que essas personagens constroem e dominam por meio do poder econômico, de dinâmicas violentas de classe e da manutenção e disseminação de valores e ideologias que remontam à fundação da nação são expostos e investigados desde as primeiras páginas pela voz narrativa, que registra com ironia, humor e pontuações críticas apuradas o processo de modernização do modo de vida em Nova York.
Capturas do filme A Época da Inocência (1993), dirigido por Martin Scorsese, com a atriz Winona Ryder no papel de May Welland e o ator Daniel Day-Lewis no papel de Newland Archer
Para explorarmos todas as cores e complexidades do romance, preparamos duas atividades. No dia 27/02, uma segunda-feira, teremos uma Sessão Literária com as professoras Roberta Fabbri Viscardi (é estranho escrever sobre mim na terceira pessoa, já que sou eu que assino este informativo) e Marcela Lanius. Com um total de duas horas e meia de duração, a Sessão Literária é uma aula seguida de um debate muito animado. Durante esse encontro, falaremos, entre outros tantos assuntos, das diferentes relações desenvolvidas pelas personagens - especialmente as mulheres - nos e com os espaços urbanos de Nova York, e proporemos diálogos entre A idade da inocência e outras obras de Edith Wharton, em especial o romance A casa da alegria (1905), também traduzido pela Julia, e A velha Nova York, uma coletânea de quatro novelas publicada em 1924 e traduzida por mim. Conversaremos, também, sobre a adaptação mais famosa desse romance para o cinema, realizada pelo diretor Martin Scorsese em 1993 e intitulada A Época da Inocência no Brasil. O trailer original pode ser assistido aqui (com legendas em português), mas é curioso como esse vídeo dá a impressão de que o filme tem um ritmo muito diferente do que realmente tem, e também que é muito menos interessante do que de fato é.
Capturas do filme A Época da Inocência (1993), dirigido por Martin Scorsese, com a atriz Michelle Pfeiffer no papel de Ellen Olenska e o ator Daniel Day-Lewis no papel de Newland Archer
Edith Wharton, conhecedora e amante das artes plásticas, incorporou à literatura muitas referências a obras de arte reais, de artistas que admirava e/ou que foram significativos e significativas nos momentos históricos sobre os quais a autora refletiu em seus escritos. A idade da inocência dialoga internamente com diferentes obras artísticas, e é também por isso que falaremos de alguns e algumas das trabalhadoras das artes que representaram as mulheres sobre as quais a autora também escreveu. Uma dessas artistas - que não é mencionada por Edith Wharton no romance, mas foi sua contemporânea - é a estadunidense Mary Cassatt (1843-1926), celebrada por suas telas impressionistas. Uma série da pintora sobre a ópera estimula a interlocução muito frutífera com o romance e o filme dirigido por Martin Scorsese.
Mary Cassatt, Mulher com Colar de Pérolas no Camarote (1879). Óleo sobre tela, 81 × 60 cm. Museu de Arte da Filadélfia, Filadéfia, Estados Unidos
Na segunda-feira seguinte à nossa Sessão Literária, dia 06/03, nosso encontro será com a tradutora da edição publicada pela Bazar do Tempo, Julia Romeu, na roda de conversa do Clube F. Com duas horas de duração, o encontro com a Julia será uma discussão entusiasmada sobre o trabalho com o texto de A idade da inocência e a vida, a obra, as viagens e as transgressões de Edith Wharton na alta sociedade de Nova York e na França, onde viveu permanentemente de 1910 até sua morte, em 1937.
Um retrato de Edith Wharton fez história ao ser impresso na primeira página do suplemento The New York Times Book Review, uma das publicações sobre livros mais influentes e lidas nos Estados Unidos. A fotografia da autora foi utilizada por ocasião da publicação do romance A casa da alegria, em 1905
As duas atividades começarão às 19h e acontecerão remotamente - ou seja, on-line - via Google Meet. As inscrições são gratuitas para assinantes do Clube F. e custam apenas R$ 50,00 para não assinantes. A inscrição dá direito à participação nas duas atividades, e as gravações dos dois encontros ficarão disponíveis por tempo limitado para todo mundo que se inscrever. Mais informações podem ser encontradas aqui, mas quem tiver dúvidas também pode escrever para o nosso e-mail ou enviar uma mensagem em nosso perfil do Instagram. As vagas são limitadas.
Em breve voltaremos com novidades sobre as nossas próximas atividades.
Abraços,
Roberta
ansiosa pelas aulas <3 e hoje vi no LitHub um artigo bacana sobre a Edith Wharton: https://lithub.com/the-future-belonged-to-the-showy-and-the-promiscuous-how-edith-wharton-foresaw-the-21st-century/